A aposta dos especialistas é que as famílias brasileiras continuem a quitar suas dívidas, acentuando ainda mais a queda da inadimplência.
Fonte: Correio da Bahia, por Victor Longo.
A inadimplência do consumidor registrou queda de 5,68% em julho de 2012, na comparação com o mesmo mês de 2011, apontam dados divulgados ontem pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Essa é a segunda maior redução registrada no período de um ano, perdendo apenas para o mês de março de 2012, quando o índice apontou retração de 11,95%, seguindo a mesma base de comparação.
Apesar do cenário positivo que começa a se desenhar, não se deve esperar um novo boom na venda de eletrodomésticos, como geladeira e fogão, e de eletrônicos como televisores. A aposta dos especialistas é que as famílias brasileiras, assustadas com o endividamento, continuem a quitar suas dívidas, acentuando ainda mais a queda da inadimplência.
O consumo, que tende a perder força no segmento dos eletrodomésticos, mudará de foco. “As pessoas não compram geladeiras nem televisores todo ano. Quem comprou vai demorar um tempo pra trocar. A mesma coisa para os carros. A tendência agora vai ser partir para a compra de bens que a classe C ainda não tem, como computadores mais portáteis e melhores, notebooks, tablets, celulares novos”, previu o economista do SPC Brasil Nelson Barrizzelli.
Segundo o especialista, os brasileiros da classe C já passaram a mudar os hábitos de consumo, assumindo compromissos como a compra de TV a cabo e internet banda larga. “Isso tem acontecido regularmente, porque os valores desses serviços têm baixado e essa faixa de consumidor tem tido cada vez mais acesso a esse tipo de serviço”, completou.
O professor de Economia da Unifacs Luciano Lisboa endossa a tese. “O brasileiro passou a ter um gosto mais apurado, buscando produtos mais elaborados como assinatura de revistas, TV a cabo e internet. Não à toa, os bancos, operadoras e transmissoras têm investido pesado em tecnologia e no barateamento desses serviços”, destacou.
Outro item que tem passado a ser prioridade na lista de consumo das famílias brasileiras da classe C são as viagens para o exterior, aponta o professor. “As viagens internacionais nunca estiveram tão acessíveis para o brasileiro. Hoje, as agências dividem os pacotes em muitas vezes, e o câmbio a R$ 2 ainda está num patamar atrativo”, ressaltou Lisboa.
Inadimplência
Apesar da expectativa do varejo de bons resultados no Dia dos Pais e Dia das Crianças, duas datas fortes para as vendas ainda neste semestre, os números divulgados ontem pelo SPC indicam que reduzir o endividamento começa a fazer parte da lista de prioridades do brasileiro. “O número de pessoas que estão saldando as suas dívidas tem aumentado e há uma tendência de que esse aumento continue”, explicou Barrizzelli.
Quando o cenário é de queda da inadimplência, o número de inclusões no cadastro do SPC de consumidores que deixaram de pagar as contas diminui, enquanto o número de exclusões aumenta. É justamente o que aconteceu em julho. O número de inclusões em relação a junho diminuiu 4,4% e o de exclusões aumentou 4,53%.
A boa notícia para quem ainda está inadimplente é que as empresas estão convencidas de que renegociar as dívidas é o melhor caminho para estimular que a população continue consumindo. Por isso, existe uma grande disposição para a renegociação. “Todos os credores estão dispostos a renegociar. É um momento muito interessante para o devedor. Estão abrindo condições de descontos, alguns estão tirando todas as correções, deixando só a dívida principal para possibilitar o pagamento”, assegurou o superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador, Carlos Roberto Oliveira.
Com o nome no cadastro do SPC por causa de uma dívida com um banco, o atendente de vendas Paulino Silva, 47 anos, está aproveitando a disposição das empresas para limpar o nome. “Esta semana, já quitei uma dívida com a Oi, que era de mais de R$ 300 e ficou por R$ 108. Vou ao banco no máximo na semana que vem para renegociar a dívida que falta e tirar meu nome do SPC”, disse. O banco já sinalizou um desconto de R$ 1,6 mil na negociação. A dívida, em torno de R$ 2 mil, passará a R$ 400.
Para intermediar a relação entre a empresa e o consumidor, a CDL vai realizar um novo Feirão do Nome Limpo, de 21 de novembro a 2 de dezembro, no Centro de Convenções de Salvador.
“Mas quem está endividado não deve esperar. A recomendação é procurar a empresa credora logo, para evitar que a dívida cresça”, orientou o superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas.
Crédito com juro de 1%
O Banco do Brasil e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) firmaram ontem, em Brasília, uma parceria para facilitar o acesso ao crédito às micro e pequenas empresas associadas às Federações e Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs) por meio do Bompratodos, programa do BB de concessão de crédito a juros baixos.
O BB lançou uma promoção para o mês de agosto reduzindo as taxas de juros das principais linhas de desconto de duplicatas, cheques pré-datados e cartões de crédito para essa classe de empresas, em função do aquecimento das vendas do comércio no Dia dos Pais, em que há aumento da demanda das empresas para adiantarem seus recebíveis.
A promoção vai até 31 deste mês, permitindo que os lojistas acessem linhas de crédito com juros a partir de 1% ao mês. Outra medida prevista no acordo é a reabertura das contratações do BB Giro Décimo Terceiro Salário, linha de crédito que oferece capital de giro às empresas para o pagamento do 13º salário dos seus empregados.