Com aeroporto em obra há anos, centros culturais rodeados por casarões abandonados e ruas desertas, hotéis e restaurantes sendo sistematicamente fechados, o estado da Bahia passa por uma crise no turismo cada vez mais explícita, com impacto direto e acentuado no desempenho econômico. As micro e pequenas empresas formam, aproximadamente, 90% do comércio e serviços atingidos pelo setor. Não temos dúvida que das 21.000 lojas fechadas nos últimos 15 meses no Estado, que geraram um desemprego de aproximadamente 50.000 trabalhadores, segundo informações do Sindilojas, parcela expressiva sofreu contribuição da queda na atividade de turismo.
O comércio local sente a perda não só na venda de serviços e produtos básicos ao turista, como alimentação, artesanato, hospedagem e transporte, mas no repasse dos impostos, na circulação da moeda em atividades de menor porte, no emprego.
Na Baía de Todos os Santos que, por sinal, é um dos mais belos e pouco explorados patrimônios naturais, o Porto de Salvador é outro vetor de atração com enorme potencial para receber turistas. É dele que vem, por sinal, a única boa notícia. De acordo com o Anuário Estatístico do Ministério do Turismo (ano base 2015), o desembarque de turistas estrangeiros em portos baianos triplicou, saltando de 3.100 em 2014 para 9.400 em 2015.
Ainda no anuário, consta que a Bahia mantém maior movimento aéreo entre os estados do Nordeste, enquanto estados como Ceará e Pernambuco vem atrás e em queda. No entanto, dados da Infraero apontam que Salvador perdeu 26,4% de voos nacionais e internacionais no último ano, equivalente a mais de mil operações no Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, classificado, segundo Pesquisa Permanente de Satisfação do Cliente, do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, como o segundo pior aeroporto do país pela terceira vez consecutiva.
Se o turismo de lazer anda mal das pernas, o turismo de negócios praticamente desapareceu. Os hotéis estão fechando as portas – numa cidade sem centro de convenções – e reduzindo, ainda mais, os espaços para eventos corporativos, levando boas oportunidades para outros estados mais estruturados, capazes de unir trabalho e diversão com eficiência e profissionalismo.
A Bahia que, em 2011 era o terceiro destino nacional, hoje está em nono lugar. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH, já perdemos 12 hotéis nos últimos anos e mais três de grande porte apresentam perspectiva de fechamento nos próximos meses, resultando num desemprego de cerca de 32.000 pessoas. Em junho, a ocupação média na Bahia chegou a parcos 30,8%, enquanto a média nordestina foi de 68%. O segmento de bares e restaurantes também foi afetado, com estimativa de 4.500 estabelecimentos fechados e 36 mil profissionais demitidos até o fim do ano, fora os 1.330 que já encerraram as atividades, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel/BA.
Por isto, acreditamos que o Governo do Estado, através do novo secretário de turismo, a Prefeitura de Salvador – cidade com economia fundamentalmente dependente das atividades de comércio e serviços e com forte vocação turística –, as associações ligadas ao trade, como ABIH, Abrasel, Associação Brasileira de Agências de Viagens – ABAV/BA, lideradas pela Câmara de Turismo da Fecomércio, CDL Salvador, a FCDL, a Associação Comercial da Bahia, e várias outras entidades, sob o guarda chuva do Fórum Empresarial da Bahia, devem buscar, desarmados de ânimos políticos, num trabalho de muitas mãos, elaborar um Plano Diretor para o setor de turismo, se necessário contratando empresa de consultoria isenta, com experiência e credibilidade reconhecidas pelas partes. Todos imbuídos do compromisso de execução do produto final. Tratando-se de um plano de longo prazo, caberá à sociedade civil, através das suas entidades representativas, cobrar dos governos atuais e futuros o seu cumprimento.
Frutos Gonzalez Dias Neto, presidente da CDL Salvador