( Fonte: Jornal A Tarde, por Fábio Bittencourt)
Quem tem um dinheirinho guardado e espera ansiosamente comprar algo que a pandemia de coronavírus obrigou deixar para depois tem a chance de ver hoje se o item em questão está um pouco mais em conta. É que acontece, em todo o país, a 14ª edição da campanha de vendas Dia Livre de Impostos. Realizada pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), a ação – que este ano ocorre na internet – tem o objetivo de dar uma reanimada no varejo e, de quebra, conscientizar a população da pesada carga tributária brasileira incidente sobre o consumo.
Organizador local do evento, o presidente da CDL Jovem de Salvador, Bruno Thomaz Ferreira, diz que, devido à atual conjuntura de crise sanitária, a expectativa não é igual a de anos anteriores – como em 2019, quando mais de cinco mil empresários aderiram à mobilização –, mas que, ao mesmo tempo, é uma “excelente oportunidade” para o lojista que quer pôr para fora uma sobra em estoque. Pode ser serviço também. Segundo Ferreira, até as 16 horas de ontem, enquanto falava com a reportagem, mais de 700 negócios haviam confirmado participação.
Confira no portal da campanha: www.dialivredeimpostos.com.br
Ainda segundo Ferreira, no ano passado fizeram parte da ação segmentos do varejo, como supermercados, drogarias, shopping centers, padarias e restaurantes.
“Este ano a ação teve de ser toda online. Porém trata-se de uma campanha de vendas diferenciada, porque é de conscientização também. Tem o objetivo de mostrar ao consumidor como aquela mercadoria ou serviço poderia ser mais em conta, não fosse a incidência de impostos no momento da compra. O impacto disso, de que forma atinge o seu bolso, ou seja, como elas poderiam consumir mais, ou mais vezes, não houvesse esse tipo de taxação, ou que ela fosse menor”, disse ele.
Sistema tributário
Presidente da Associação de Lojistas do Salvador Shopping, Humberto Paiva, destaca que o Dia Livre de Impostos “já está virando uma liquidação esperada”.
Que o Brasil figura entre os países com maior carga tributária no mundo, isso não é novidade para ninguém. Mas e se alguém disser para você, leitor, que em 2020 o brasileiro trabalhou de primeiro do ano até 30 de maio (151 dias) para pagar impostos – municipal, estadual, federal –, a coisa muda de figura, não é mesmo?
Pois isso é o que aponta o mais recente estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Segundo o levantamento, os tributos somados perfazem mais de 41% do salário ganho por um brasileiro médio no período de um ano.
Isso porque, explica o presidente-executivo do IBPT, autor da pesquisa, João Eloi Olenike, grande parte da taxação incide sobre o consumo, cerca de 23%; depois sobre a renda, algo em torno de 15%; por último, sobre o patrimônio, com 3%. Ou seja, trocando em miúdos, paga mais quem pode menos.
Ainda de acordo com Olenike, foi com base no levantamento do IBPT que, em 2010, por meio de projeto de lei, foi criado o chamado Dia Nacional de Respeito ao Contribuinte. Comemorado no país em 25 de maio, a data corresponde aos 145 dias de trabalho necessários para se pagar impostos em 2006, quando foi publicado o primeiro resultado do estudo.
Segundo Olenike, a partir daí um “movimento popular” teria instituído o 4 de junho para celebrar o Dia da Liberdade de Impostos.
Só que o número de dias vem aumentando com o passar dos anos. Segundo o especialista, um dos fatores é o aumento no número de tributos. Em 2001 eram necessários 130 dias de trabalho para pagar todos os tributos. Hoje, são 151 dias, alta de 16%. Na década de 1970 eram necessários 76 dias; 1980, 77 dias; 1990, 102 dias; e nos anos 2000, 130 dias.
“Esse crescimento no número de dias trabalhados para pagar tributos foi calculado e apresentado por décadas pelo IBPT, demonstrando que, hoje, trabalhamos quase o dobro do que na década de 70”, afirmou.
No ranking mundial dos dez países com a maior carga tributária – todos eles ricos –, o Brasil ocupa a 9ª colocação, “entre países como Dinamarca e Alemanha, considerados altamente desenvolvidos e com índices de retorno bem diferentes que o país sul-americano, que, em todas as edições do Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade (Irbes) foi o último colocado”, disse ele.
A título de comparação, nos Estados Unidos, o cidadão americano irá trabalhar este ano 96 dias para pagar seus tributos –, 36% a menos quando comparado com o Brasil. “A cobrança de impostos sobre consumo no Brasil é uma política conveniente e injusta, claro, porque é um país onde a maioria é pobre, e não vão esperar que as pessoas adquiram renda ou patrimônio”, diz.