Nos últimos seis meses, o preço do produto não para de subir.
Fonte: Correio da Bahia, por Victor Longo.
Na conhecida história bíblica de Adão e Eva, o fruto proibido era a maçã. Já nos supermercados e feiras de Salvador, o negócio é diferente. O fruto proibido para o consumidor que não pode extrapolar o orçamento é outro: o tomate. Nos últimos seis meses, o preço do produto não para de subir. Em alguns lugares, o quilo do tomate beira os R$ 7, o que o levou a virar o vilão na cesta básica da capital baiana.
De acordo com os dados da cesta básica de Salvador divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estudos Econômicos e Sociais (Dieese), o preço do produto já acumulou uma alta de 41,85% em apenas seis meses, de abril a agosto. Em relação a julho, a alta foi de 10,59 %. Com isso, o tomate está pesando mais na cesta, que passou a custar R$ 225,23 em agosto. De todas as despesas com a alimentação básica, os gastos mensais com o fruto já representam R$ 31,32, o equivalente a 13,9% das despesas.
No comércio soteropolitano, o produto dobrou de preço em apenas três meses. É o caso do Ceasinha, do Rio Vermelho, onde o quilo do tomate custava R$ 2 no início de junho e passou para R$ 4, preço praticado até ontem. Com isso, o preço se igualou ao de frutas normalmente mais caras, como o maracujá e a manga adem. No supermercado Bompreço da Vasco da Gama, o tomate estava custando R$ 4,85. “Assim fica difícil, a gente tem que passar a comprar em menor quantidade”, desabafou a técnica de laboratório Jaqueline Alcântara, 44 anos.
Já no Extra, localizado na mesma avenida, o tomate foi um dos únicos vegetais que não estavam em promoção ontem, a chamada “terça-feira verde”, em que os preços do hortifruti caem. O quilo custava R$ 4,30. Na Perini, o preço do quilo estava R$ 6,73. No mercadinho Betânia, na Federação, o preço era mais amigável, mais ainda acima do comum: R$ 2,99.
Razões
A principal razão para o preço alto do tomate é o frio atípico de estados do Sul e do Sudeste, os principais produtores nacionais. “Apesar de ser produzido ao longo de todo o ano, o tomate é muito sensível às mudanças de temperatura”, explicou a economista do Dieese Nádia Vieira.
“Trata-se de um fenômeno nacional. Tanto que o produto teve alta em agosto em 15 das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese”. O mais comum é que a safra do tomate seja prejudicada nas estações mais quentes, mas o frio do Sul e do Sudeste foi tão forte este ano, que levou à escassez.
Apesar de haver produção local na Bahia, especialmente no Sul do estado, parte dessa produção acaba sendo destinada ao abastecimento de mercados que sentem mais a escassez, o que também reduz a oferta do tomate, elevando o preço. Em junho, o preço médio do tomate em Salvador segundo a pesquisa do Dieese foi R$ 1,99. Em julho, o preço já havia alcançado os R$ 2,36. Já em agosto, alcançou os R$ 2,61.
O impacto não foi sentido sobre os produtos derivados, como o catchup e os atomatados (molho e extrato). O economista da FGV, André Braz, explica: “Os produtores assinam contratos com a indústria que fixam os preços do tomate vendido a eles, o que impede um impacto significativo”. Segundo Braz, também há contratos que destinam uma quantidade determinada para a indústria, o que ameniza a alta nos preços.
A boa notícia é que o preço do fruto proibido deve voltar ao normal nos próximos meses. “Já existe uma desaceleração na inflação do tomate”, explica Braz. Procurada pelo CORREIO, a Secretaria de Agricultura da Bahia não se pronunciou.
Cesta custa R$ 225,23 em Salvador
A cesta básica ficou mais cara, em agosto, em 15 das 17 capitais onde o Dieese realiza coleta de preços. Segundo o levantamento, o valor dos itens alimentícios básicos teve a maior alta em Florianópolis (10,92%), Curitiba (4,69%) e Rio de Janeiro (4,09%).
Natal (-1,64%) e Belo Horizonte (-0,66%) foram as capitais onde a cesta teve queda. Pelo segundo mês seguido, Porto Alegre foi a capital com a cesta mais cara (R$ 308,27), seguida por São Paulo (R$ 306,02) e Rio (R$ 302,52). Já em Aracaju (R$ 212,99), Salvador (R$ 225,23) e João Pessoa (R$ 233,36), o gasto médio dos brasileiros com a cesta básica foi menor em relação às demais capitais pesquisadas.
Na comparação acumulada entre janeiro e agosto, todas as capitais também mostraram elevação nos preços. Das 17 capitais, 11 tiveram avanço acima de 10% em comparação a igual período do ano passado.